Muitas vezes, o conceito de visualização de dados nos remete à imagem de um analista de business intelligence sério e antiquado, mas geralmente ela é muito mais criativa e divertida do que se imagina. A visualização de dados pode ser aplicada de inúmeras formas, desde painéis empresariais até visualizações sobre saúde pública e análises de tendências da cultura pop. Para criar visualizações de dados úteis e cativantes, além das habilidades analíticas, também é necessário ter conhecimentos de design gráfico e saber contar histórias.
Neste artigo, apresentaremos algumas das visualizações mais influentes, interessantes e reveladoras já criadas. Viajaremos no tempo para examinar alguns exemplos históricos ilustres e depois voltaremos ao presente para explorar algumas visualizações contemporâneas. Leia também nosso guia detalhado sobre a visualização de dados e confira alguns dos nossos exemplos favoritos.
1. Mapa da marcha de Napoleão
Visualização criada por: Charles Joseph Minard
Saiba mais: Wikipédia
Em 1812, Napoleão marchou até Moscou para conquistar a cidade. A empreitada foi um desastre: depois de partir com cerca de 470 mil soldados, ele retornou com apenas 10 mil. Este gráfico conta a história dessa campanha de guerra e se tornou uma das visualizações mais famosas de todos os tempos.
O mapa detalha a jornada de ida e volta das tropas de Napoleão. O comprimento da linha representa o número total de soldados e a cor representa a direção (amarelo indica o trajeto de ida até Moscou e preto indica a viagem de volta). Abaixo da visualização central, há também um gráfico de linha simples que mostra a rápida queda da temperatura no inverno. Trata-se de uma visualização clara e detalhada que pinta um quadro surpreendente da devastadora jornada.
O gráfico foi alvo de diversas análises críticas ao longo dos anos devido à fama que ele conquistou (este artigo do site Excelcharts.com é um ótimo exemplo). Grande parte das críticas é justificável, mas o gráfico continua sendo imensamente popular e influente, pois conta uma história de forma brilhante com riqueza de detalhes em cada ponto de dados, além de estimular a curiosidade.
2. Mapa do surto de cólera na Broad Street em 1854
Visualização criada por: John Snow
Saiba mais: Wikipédia
O mapa da cólera criado por John Snow (não o Jon Snow de Game of Thrones) é basicamente uma das primeiras visualizações com um mapa de pontos. Ele usa pequenos gráficos de barras nas quadras da cidade para marcar o número de óbitos por cólera em cada residência em um bairro de Londres. A concentração e o comprimento dessas barras representam um grupo específico de quadras da cidade com o objetivo de descobrir por que o número de mortes é maior nessa área do que em outros lugares. A descoberta: as residências com o maior número de casos de cólera todas consumiam a água do mesmo poço. Na época, isso foi uma grande revelação. O poço em questão abastecia uma área com uma alta concentração de surtos de cólera e havia sido contaminado pelo esgoto. Aplicada a uma tendência mais ampla de surtos de cólera em Londres, essa descoberta ajudou a traçar uma linha mais clara entre a doença e os poços de água contaminados. A solução para combater a cólera nesse momento foi construir sistemas de esgoto e proteger os poços contra contaminação.
É por isso que essa visualização foi um enorme sucesso: ela revelou a causa de um grave problema e ajudou a encontrar uma solução. Além disso, em uma época em que os mapas de pontos e de variações ainda não haviam sido inventados, essa versão inicial foi incrivelmente inovadora. Só foi possível descobrir uma solução porque o analista foi além das técnicas de visualização convencionais para criar algo novo e útil.
3. Causas de mortalidade na Guerra da Crimeia
Visualização criada por: Florence Nightingale
Saiba mais: Wikipédia
Durante a Guerra da Crimeia na década de 1850, a taxa de mortalidade, que já era alta, não parava de subir. As batalhas não eram a única causa. A enfermeira, analista e prodígio dos dados Florence Nightingale usou esta linda visualização de dados para revelar que a maioria das mortes era na realidade causada por práticas hospitalares precárias. As áreas sombreadas dos gráficos espirais mostram o total de mortes, enquanto as áreas mais escuras representam as mortes em combate. Observando os gráficos, fica bastante evidente que havia outro problema de grandes proporções. Graças a seus conhecimentos médicos e suas visitas aos hospitais, Nightingale descobriu que as condições médicas precárias eram a surpreendente e evitável causa de tantas mortes.
A pesquisa fazia parte de uma Comissão Real que investigava as causas de mortalidade dos soldados na Guerra da Crimeia. Nightingale trabalhava com William Farr, um pioneiro da área de estatística da era vitoriana. Farr não concordava com a ideia de incluir visualizações na investigação, mas ela não cedeu e insistiu no uso desta visualização hoje famosa.
4. Novo Gráfico da História
Visualização criada por: Joseph Priestley
Saiba mais: Wikipédia
Uma forma engenhosa e visual de imaginar a imensa e complexa linha do tempo dos registros históricos da civilização.
Joseph Priestley é famoso pela criação de dois gráficos cronológicos. O primeiro foi o “Gráfico Biográfico”, que apresentava uma linha do tempo de 700 anos representando cronologicamente a vida de personalidades, líderes e filósofos famosos, além de indicar quais personalidades históricas atuaram no mesmo período histórico. Apesar de sua simplicidade, o Gráfico Biográfico continua sendo uma das visualizações mais importantes da história.
Em sua segunda linha do tempo, Joseph Priestley expande as técnicas do Gráfico Biográfico para criar o Novo Gráfico da História. Assim como o primeiro gráfico, trata-se de uma linha do tempo que ressalta a existência simultânea e a influência dos principais impérios e culturas ao longo da história. Priestley inovou sua técnica introduzindo cores, tamanho e um criativo eixo y representando a localização. O resultado é uma fascinante narrativa visual da história humana que diz mais que mil palavras. Apesar de ser um gráfico bastante carregado com elementos visuais, ele também é extremamente criativo, e foi uma inovação surpreendente e importante para a época.
5. Orçamento interativo da administração Obama
Visualização criada por: Gabinete de Gestão e Orçamento dos EUA (2016)
Saiba mais: Arquivos da Casa Branca durante a administração Obama
Todos os países, e principalmente os Estados Unidos, administram orçamentos públicos notoriamente complexos e difíceis de entender. Este mapa de árvore, que foi criado pela Casa Branca durante a presidência de Barack Obama, detalhou visualmente o orçamento dos Estados Unidos em 2016 para contextualizar os programas governamentais. Não podemos afirmar ao certo se esse foi o primeiro orçamento interativo publicado abertamente pelo governo dos EUA, mas ele é muito esclarecedor (ainda que seja um simples gráfico de mapa de árvore).
O que torna essa visualização particularmente importante é o seu método de apresentação. Não se trata do mapa de árvore ou da visualização interativa mais inovadora do mundo, muito menos da primeira visualização do orçamento público dos EUA amplamente divulgada (o jornal The New York Times publicou uma incrível visualização do orçamento de 2013, e o candidato norte-americano Ross Perot é conhecido por usar gráficos). O ponto principal neste caso é o fato de que uma grande potência mundial adotou uma visualização de dados interativa para informar aos contribuintes como o dinheiro dos impostos estava sendo gasto. Esse tópico complexo e confuso ficou fácil de entender com uma visualização simples e clara.
6. Depois da Babilônia
Visualização criada por: Laboratório Density Design
Saiba mais: Depois da Babilônia
Entender as extensões da proliferação das línguas é extremamente difícil, principalmente para quem não viaja e interage com outros idiomas com frequência. Sabemos que existem muitas línguas no mundo, mas é difícil especificar o número exato de idiomas existentes, onde eles são falados, sua predominância no mundo e como eles influenciam uns aos outros.
O projeto After Babylon (Depois da Babilônia) da DensityDesign apresenta os idiomas do mundo em uma coleção de mapas e gráficos interativos usando o World Atlas of Language Structures (Atlas Mundial de Estruturas Linguísticas). Todas as 2.678 línguas são representadas, mostrando onde se originaram, onde são faladas e as populações de falantes. Ele mostra até mesmo as relações entre os idiomas, como famílias de línguas e empréstimos linguísticos, e palavras comuns entre idiomas.
7. O futuro dos EUA
Visualização criada por: Pew Research Center
Saiba: O futuro dos EUA
A iniciativa The Next US (O futuro dos EUA) do centro de pesquisa Pew Research Center faz uma análise abrangente de dados demográficos dos Estrados Unidos e os reúne em um grande, interativo e cativante projeto de visualização de dados com vários “capítulos” formados por visualizações precisas (o gráfico acima mostra apenas uma delas). Esse projeto mostra dados como tendências de aumento da diversidade e de casamentos inter-raciais, apresenta o contexto histórico para linhas de tendências e faz previsões sobre as transições e mudanças demográficas que poderão ocorrer nos EUA nas próximas décadas.
Um dos destaques é uma pirâmide demográfica animada que representa as faixas etárias por sexo. Em poucos segundos, podemos ver as mudanças que ocorreram na população desde a década de 1950, com a intervenção médica e os serviços de saúde, que aumentaram a longevidade das pessoas, e a diminuição das taxas de natalidade após o Baby Boom no período após a Segunda Guerra Mundial. À medida que o tempo passa, a pirâmide de faixas etárias se converte em um retângulo.
8. Diálogos de filmes (divididos por sexo do personagem)
Visualização criada por: Hanah Anderson, Matt Daniels
Saiba mais: The Pudding
Embora a Polygraph (também conhecida como The Pudding) seja mais conhecida por sua popular visualização de letras de canções de rap, aqui Hanah Anderson e Matt Daniels representam visualmente a desigualdade de gênero na cultura pop examinando o roteiro de 2.000 dos maiores filmes da história do cinema. Para cada filme, a visualização calcula o total de falas de diálogo de personagens masculinos e femininos. As conclusões são surpreendentes.
A escassez de filmes de ação com protagonistas femininas não é novidade. Porém, é muito mais chocante visualizar o drástico desequilíbrio entre a participação de cada sexo em filmes de todos os gêneros. Este projeto inclui quatro visualizações principais: um detalhamento especificamente de filmes da Disney, uma visão geral de 2.000 roteiros, uma barra em gradiente na qual o usuário pode pesquisar filmes e explorar alguns filtros relevantes e uma breve análise das tendências da idade dos atores em papéis masculinos e femininos.
Além do impressionante trabalho de analisar 2.000 roteiros cinematográficos e apresentar descobertas surpreendentes, este projeto é admirável por sua franqueza e transparência: os dados e a metodologia são públicos, estão explicados em detalhes e podem ser acessados diretamente no projeto. Esse tipo de transparência é uma tendência muito bem-vinda, embora não avance com a velocidade que gostaríamos de ver.
9. Selfiecity
Visualização criada por: OFFC
Saiba mais: Selfiecity
Só porque esta visualização analisa selfies em vez do combate à cólera, não significa que você deve ignorá-la. A iniciativa Selfiecity apresenta uma visão abrangente dos dados de selfies no contexto de um fenômeno mundial. 120 mil selfies do mundo inteiro são analisadas para investigar como as pessoas tiram esses retratos de si mesmas. O que surpreende é a abrangência do estudo e a seriedade com que ele destrincha e examina todos os aspectos das selfies. Podemos encontrar tendências em tudo, desde a inclinação da cabeça e a pose das pessoas em cada cidade até a frequência de sorrisos em cada faixa etária e sexo.
Você já devia imaginar que a maioria das pessoas que tiram selfies são jovens. Mas talvez se surpreenda ao saber que as selfies não são tão comuns como se imagina, que as mulheres de São Paulo tendem a inclinar a cabeça mais do que o resto do mundo e que, em Bangkok, as pessoas geralmente tiram selfies sorrindo. Com a influência cada vez maior das redes sociais em nossas vidas, esta visualização apresenta uma perspectiva fascinante desse fenômeno global emblemático. A visualização traz ainda um elemento interativo que os usuários podem usar para a aplicar filtros específicos e explorar em mais detalhes o mundo das selfies.
10. Todos os eclipses solares futuros (até 2080)
Visualização criada por: Denise Lu
Saiba mais: Washington Post
Depois do eclipse solar de 2017, o primeiro eclipse a cruzar os Estados Unidos de uma costa à outra em quase um século, o Washington Post criou uma visualização interativa do globo terrestre mostrando o trajeto do eclipse, bem como o trajeto de todos os eclipses futuros até 2080.
O globo giratório mostra o trajeto dos eclipses em sua totalidade (em que o Sol é totalmente coberto pela Lua), em quais partes do mundo o fenômeno ocorrerá e em qual data (o tempo é indicado pelas sombras claras e escuras, bem como no texto das dicas de ferramenta focalizáveis). Se você informar o ano do seu nascimento na página, também poderá conferir o número estimado de eclipses que ainda acontecerão durante sua vida.